quarta-feira, 4 de março de 2009

Moedas de Troca

Não estou mais na escola, com uma professora determinando sobre qual tema devo escrever, nenhuma frase, nem ao menos uma foto ou gravura que seja, se eu quiser escrever, farei por mim mesma, sem notas, sem recompensa, sem correção, apesar de que tenho meu próprio corretor ortográfico, critico de primeira, mesmo odiando ser criticada, ele eu deixo me inspira.
Em alguns dias essa inspiração estará muito distante e com tantos meios de comunicação e de transporte, nos falta um único recurso, aquele tal pessoal e intransferível, que faz toda a diferença, que não deveria ser levado em consideração e muito menos poderia influenciar a vida das pessoas. Nos falta o que não deveria faltar a ninguém ; por direito constitucional, por herança, por prêmio ou qualquer que seja o motivo, eu considero tão desnecessário que nem tenho, além de não ter ainda estou devendo, como pode ?
Bastou nascer pra precisar, troca-se um certa quantia por um nome, eu que nem gosto tanto assim do meu nem tenho mais o direito de ser chamada e reconhecida como SANDRA.
Nunca imaginei que tal recurso conseguisse mudar minha vida tão significativamente definindo meu estado civil, meu endereço, meu cardápio, meu amor e meus meios de comunicação e transporte.
Ainda assim confio que nem preciso de tanto, só o suficiente para dormir e acordar em lençóis de algodão com travesseiros confortáveis com a altura exata do meu ombro ao meu queixo; num quarto com venezianas e/ou persianas escuras, onde eu possa ter um aparador com uma luminária e um porta-retrato com uma foto dos meu meninos sorridentes, que eu possa levantar e calçar minhas havainas black, caminhar em direção ao PC, liga-lo e voltar em direção a cozinha, acionar a cafeteira me dirigir ao banheiro com porcelanas pretas sentir o conforto de ver um rolo de papel-higiênico; lavar minhas mãos com sabonete liquido de erva doce, escovar meus dentes e aplicar meu hidratante diurno com protetor solar fator 15; sair do banheiro ainda de pijama e caminhar até a mesa de vidro onde distribuo os lugares americanos com xícaras divertidas em volta de uma variação de preparações para o desjejum; quero poder dizer bom-dia ao meu amor com beijinhos de café e depois de um longo abraço, daqueles que parece que não nos vemos a dias perceber que o microondas já desligou e o leite já está quente; saber a programação do dia de todos que me cercam, oferecer carona, conferir o dever de casa, ligar o som, a TV e o ar-condicionado, disputar o PC no par ou ímpar; descongelar o cardápio do almoço, programar um jantar com a família toda, com direito a azeitonas no sofá e refrigerante zero açúcar no tapete, mas que tapete?? EU ODEIO TAPETES E CORTINAS; então com direito a refrigerante no piso e todos correndo em busca de um pano de chão para secar antes que o responsável entre em pânico com medo de formigas e baratas e acabe embebido em coca-cola zero.
Quero fazer e receber ligações em tempo indeterminado num aparelho sem fio que me permita percorrer a casa toda e ligar a máquina de lar roupas, pegar as correspondências, verificar o óleo do meu celta na garagem, sentar na rede e planejar o próximo projeto de festa daquela cliente que era só uma amiga. Quero ter a liberdade de tomar banho com a porta aberta e ter meia dúzias de potes com produtos que deixem meus cabelos sedosos e brilhantes, quero andar de toalha pela casa deitar no puff e assistir um filme antes de começar a trabalhar, quero tirar metade das minhas roupas do meu closet e deixar tudo espalhado pra só antes de dormir decidir o que fazer com tudo; quero algumas bolsa, alguns pares de sapato e alguns perfumes, só as mulheres sabem o quanto esses itens melhoram o dia de qualquer um, quero almoçar rapidinho mas com direito a entrada, prato principal, guarnição, sobremesa e suco.
Sair atrasada com o carro cheio de crianças, preocupada com meu amor que está atrasado e vou ter que voltar buscá lo. Aproveitar o transito pra ouvir todo mundo cantando e reclamando ao mesmo tempo, até que só eu esteja no carro em direção ao trabalho, sempre com muitos projetos na cabeça e muita música nos ouvidos; na volta pra casa passar no mercado, comprar pequenos agrados para o paladar, colorir a fruteira de casa, voltar voando com saudades do meu amor; rir muito na cozinha lotada, todos preparando o jantar pra só então degusta-lo reunidos no sofá comentando a TV, o dia e todas as indignações possíveis, quero ter o suficiente para planejar a viagem do feriado ou o show do fim de semana, encontrar o carregador da minha super camera digital, pra garantir as fotos do passeio; jurar que na segunda-feira eu começo a academia, tudo enquanto tomo banho, faço uma massagem relaxante com óleos aromáticos e um incenso afrodisíaco, no meu quarto a meia luz, som ambiente, pra eu então namorar um pouco, poder dormir sem roupas, enrolada no edredon, sem medo de ser criticada, sem me preocupar com aquele detalhe, ou recurso que hoje impede que tudo isso aconteça.
Se tempo é dinheiro, minha conta-corrente deveria estar recheada.

Ass: Sandra Leão

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